Foto: Gabriel Haesbaert
Motoristas de Santa Maria encontram dificuldades para trafegar pelas ruas da cidade
Para manter um veículo, o proprietário tem custos como IPVA, seguro, combustível e revisão. Os motoristas que andam pelas ruas de Santa Maria têm um custo adicional: o conserto de pneus. Com ruas em péssimas condições e buracos novos a cada chuva - isso que o período de chuvas nem começou ainda -, o custo com o conserto acaba entrando no orçamento mensal.
A realidade pode ser constatada pelo movimento em oficinas e borracharias, que estão lucrando 50% a mais nos últimos tempos em função das crateras nas ruas. São duas situações. A primeira, quando "apenas" pneu e/ou roda são afetados, o prejuízo não é tão elevado. Porém, no caso da segunda, em que há danos na parte mecânica do carro ou moto, os custos são bem mais elevados.
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Na borracharia Tchê Pneus, onde trabalha a atendente Gina Vieira, 58 anos, são pelo menos cinco carros que chegam diariamente para conserto de danos por causa dos buracos.
- Isso ocorre toda hora. São pneus cortados ou rodas tortas. Há casos em que os veículos chegam em guinchos por terem furados dois pneus no mesmo buraco - diz a atendente.
Segundo ela, os prejuízos podem chegar a até R$ 200 se tiver de trocar uma roda de ferro, por exemplo, e ainda fazer a vulcanização (espécie de remendo no corte) do pneu. No entanto, esse valor pode aumentar se for preciso colocar um pneu novo.
O vendedor João Carlos Curcio Filho, 54 anos, sabe bem o que isso. Há poucos dias, ele precisou trocar o pneu do carro após cair em um buraco.
- As ruas estão uma buraqueira geral. Gastei R$ 200 para consertar. No carro que uso para trabalhar, a empresa desembolsou quase R$ 1 mil para reparar danos na suspensão também motivados pelas más condições da ruas da cidade - revela o vendedor.
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RISCO DE ACIDENTES
A assessora jurídica Andriele Gonçalves Christo, 35 anos, que inclusive caiu em um buraco na Rua Silva Jardim minutos antes de falar com a reportagem, diz que já teve prejuízos por causa das más condições das vias:
- Já furei pneu e até aconteceu de quebrar o carro por baixo. É muito ruim também porque, ao desviarmos dos buracos, podemos causar um acidente. É perigoso. Precisamos ter atenção.
Foto: Gabriel Haesbaert
Quando a pancada em um buraco é muito forte, além de pneus e rodas, a estrutura mecânica do carro também é afetada. Na oficina Mundi Inject, são pelo menos quatro casos desse tipo que aparecem por lá diariamente, segundo o proprietário Giovani Dalla Lana Moreira, 40 anos.
- Um dos motivos dos danos é o impacto constante com os buracos, que acabam comprometendo as peças que sofrem um desgaste muito rápido, em alguns, até dentro da garantia. As principais partes afetadas são a suspensão, com amortecedores e embuchamento. O gasto médio, em um carro popular, para troca dessas peças fica entre R$ 600 e R$ 800 - conta o mecânico.
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O mesmo ocorre na oficina Grapiglia Suspensões, onde os serviços aumentaram em torno de 50% nos últimos tempos, principalmente por causa de danos relacionados a quedas em buracos, conforme o proprietário Sérgio Grapiglia.
- São muitos itens que integram o sistema de suspensão, e como muitos deles são integrados, quase sempre todos acabam tendo danos. Para troca de peças como amortecedor, pivôs,caixa de direção, ponteiras, bieleta e borrachas estabilizadoras de um carro popular, o custo fica em torno de R$ 1 mil. O ruim com isso tudo é que os motoristas acabam fazendo menos as revisões preventivas, que é a troca de óleo, filtros e correias, e que tem custo em torno de R$ 600 conforme o carro, por causa dos prejuízos com a revisão corretiva, que geralmente são mais caros. Percebemos essa mudança no setor - aponta Grapiglia, dizendo que, em alguns casos, veículos chegam de guincho na oficina, tamanho o estrago causado por quedas em buracos.
DONOS PODEM PEDIR RESSARCIMENTO?
Muitos motoristas não sabem, mas é possível requerer, via judicial (geralmente no Juizado Especial Civil), o ressarcimento pelo dano causado junto ao órgão responsável pela via, seja ela federal, estadual ou municipal. Conforme o advogado Cristian Bastianello, essa é uma prática possível, mas não é feita por falta de conhecimento das vítimas dos buracos.
- O consumidor tem o direito de ser ressarcido. No entanto, para que isso ocorra, ele precisa reunir o máximo de itens que comprovem o dano causado, como fotos do estrago feito no carro e do buraco, notas fiscais do conserto, testemunhas, e tudo aquilo que tenha um nexo com o prejuízo. Ele não pode, por exemplo, querer o reembolso de um vidro quebrado, já que é uma peça que não tem nexo com o buraco - explica o advogado.
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Ele diz que os casos mais comuns são em rodovias e que, em boa parte das vezes, a causa é ganha e o órgão competente acaba tendo de reembolsar ao motorista lesado.
Um exemplo vindo da Capital gaúcha é a criação de um departamento específico para tratar desse assunto, oferecendo solução sem ação na Justiça. A Câmara de Indenizações Administrativas (CIA) recebe e julga pedidos de indenizações por danos materiais.
Criada em julho de 2016, no primeiro ano a CIA teve mais de 220 pedidos de indenização por diferentes prejuízos que, em média, são julgados em 79 dias, em Porto Alegre. Destes pedidos, 15,96% são de danos em veículos decorrentes de buracos. No mesmo período, foram pagos cerca de R$ 180 mil em ressarcimentos.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Uma equipe da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos atua exclusivamente na recuperação de buracos, garante o titular da pasta, Paulo Roberto de Almeida Rosa. Segundo o secretário, existe uma ação efetiva com priorização nas vias centrais da cidade, ruas e avenidas, e ainda, nos bairros. Nesse caso, nas vias de maior circulação, como as que são linhas do transporte coletivo ou importantes na ligação de lado da cidade a outro, como a Venâncio Aires. Ele explica que são três métodos utilizados para manutenção.
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- O tapa-buracos literalmente é o momento em que é jogada a massa asfáltica no buraco. No entanto, o que nos procuramos fazer é um segundo método, que consiste no restabelecimento da trafegabilidade, onde é retirado o material antigo, colocada a emulsão asfáltica e, em cima dela, aplicada a massa asfáltica e compactada com o rolo. Esse tem uma durabilidade maior. Há ainda a recuperação técnica, que é a retirada mais profunda do material até a base onde há pedra, recomposição dessa base e colocada uma massa mais grossa de asfalto, de 3cm a 5cm. Várias ruas já passaram por essa recuperação técnica, e o cronograma prevê muitas outras. Procuramos fazer um serviço de uma qualidade melhor para durar mais - garante Almeida Rosa.
O secretário reconhece a precariedade dizendo que "as ruas e avenidas já estão com asfalto bastante fadigado teriam que ser totalmente repavimentadas".
- Estamos buscando recursos para que isso seja feito, ao menos em trechos ruins das principais ruas, já que tudo não dá. O prefeito deverá anunciar um processo licitatório para contratação de uma empresa tão logo seja disponibilizado o recurso da Corsan (resultado de renovação de contrato) - revela.